O mundo ao avesso (6 - reagir)

Reagir.
Eu tinha de reagir, e felizmente tive ao meu lado pessoas que me ajudaram a tal.
Família, amigos que estavam longe e de repente ficaram perto, amigos que estavam perto e de repente ficaram longe (desses falarei noutro post), colegas de trabalho, considero que fui uma felizarda mesmo.

Decidi sorrir, afinal a sorrir é tudo mais fácil!

Acho que inconscientemente fui buscar o exemplo da minha avó materna.
Uma mulher extremamente forte, determinada e teimosa.
Também ela teve cancro da mama.
Foi uma lutadora, nunca baixou os braços, fez tudo o que era preciso e conseguiu, conseguiu acabar com o bicho, ficou com imensas mazelas, mas não foi ele quem levou a melhor, o maldito cancro não a venceu, e também não me ia vencer a mim, estava determinada.

Nunca pensei que ia correr mal, pelo menos nunca quis acreditar nisso.
Tenho uma filha e vou vê-la crescer, vou estar presente ainda muito tempo.
Talvez isso tenha sido dos pensamentos que mais força me deram, e não é fácil encontrar força.

Tentei não pensar em como ia ser, como ia reagir quando saísse da mastectomia, quando me olhasse ao espelho. Tentei não pensar e se o bicho já está espalhado pelo meu corpo? Aprendi a não criar falsas expectativas, nem para o bom nem para o mau, apenas vivi até chegar o dia.

Vivi o melhor que consegui, e sorri o mais que me foi possível, por isso tentei saber o menos possível sobre o assunto. Não fiz pesquisas pela internet fora, não quis falar com quem já tinha passado por situações semelhantes, afinal cada caso é um caso, cada pessoa reage de uma determinada forma, e eu não queria sofrer com os problemas dos outros. E isso agora parece uma enorme contradição, uma vez que eu própria estou a partilhar aqui o que se passou comigo, mas tal como eu não quis mais informação, pode haver quem queria e se eu puder ajudar uma mulher que seja, já fico feliz.

Vivi um dia de cada vez e esperei pelo dia.



Puxador algures por Praga
Photos by ♥ Dora Ramalho

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