O mundo ao avesso (15 - substituir)

Depois dos vários enchimentos do expansor, foi preciso esperar, esperar que a pele esticasse, esperar que tudo cicatrizasse como deveria ser e conviver com aquele objeto estranho dentro de mim.

Tive que esperar até 23 de novembro de 2015, esperar que a anestesia me pusesse a dormir, e esperar que ao acordar o desconforto tivesse diminuído. O objetivo desta cirurgia era simples, retirar o maldito expansor e colocar uma prótese definitiva.

Aconselharam-me a colocar uma pequena prótese também na outra mama, para não ficar com uma igual às meninas de 20 anos e a outra igual a uma mulher de 40.
Assim foi, cirurgia 2 em 1, que correu muito bem.
Adormeci tranquila e tranquila acordei no recobro, já estava.
Efetivamente o desconforto tinha ido embora, já não sentia aquela coisa dentro de mim a magoar-me constantemente, estava aliviada. 

Supostamente não me colocavam a dormir tão cedo, porque o que estava por fazer (reconstrução de mamilo e pigmentação) poderia ser feito em ambulatório.

As dores inerentes a esta última cirurgia foram ligeiras, nada comparado com as da mastectomia, nem com os enchimentos do expansor, afinal de contas, também conseguimos começar a desvalorizar algumas coisas e só o facto de pensarmos que já tinha passado o pior, foi meio caminho andado.

Aliás, este desafio de vida, fez-me desvalorizar muita coisa e valorizar tantas outras. Creio que faz parte de todo o processo, faz parte também de um crescimento interior. 
Mudamos sem dúvida, jamais serei a pessoa que era antes e confesso que me sinto especial por isso.

Sinto-me especial porque foi um desafio deveras duro e consegui lidar com ele. Consegui manter-me lúcida o suficiente para não desistir, consegui lutar nos piores momentos, consegui abstrair-me e não pensar muito o quanto pior podia ser, ou seja mantive-me positiva.

A substituição estava feita, faltavam apenas os retoques.



Photos by Dora Ramalho

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